"Morreu José de Alencar MacLeod."
Mas quem escreveu foi ela.
quarta-feira, 30 de março de 2011
sábado, 26 de março de 2011
"Antes eu amava especialmente o seu cheiro. Ela ainda cheirava a frescor: de banho tomado, ou cheiro fresco de lavanda, ou de suor fresco, ou de quem foi amada há pouco. Às vezes usava perfume, não sei qual, e era mais leve do que todos os outros. Por baixo desses cheiros frescos existia ainda um outro, um cheiro pesado, escuro, acre. Frequentemente eu a farejava como um animal curioso, começando pelo pescoço e ombros, que cheiravam como se tivessem acabado de sair do banho, inspirando o cheiro fresco de suor entre os seus seios, misturado com o outro cheiro nas suas axilas, encontrando esse cheiro pesado e escuro quase puro na cintura e na barriga, e entre as pernas numa tonalidade de fruta que me excitava. Também bisbilhotava suas pernas e pés, as coxas, onde o cheiro pesado se perdia, os joelhos, mais uma vez cheirando levemente a suor fresco, e os pés com cheiro de sabonete, ou couro, ou cansaço. As costas e os braços não tinham nenhum perfume especial, não cheiravam a nada e no entanto cheiravam como ela, nas palmas das mãos havia o perfume do dia e do trabalho: a tinta preta dos bilhetes, o metal do furador, cebola, ou peixe, ou carne assada, água com sabão ou o calor do ferro de passar. Quando lavadas, as mãos a princípio não demonstravam nada disso. Mas o sabão apenas cobria os cheiros e depois de certo tempo eles voltavam, fracos, combinados num único perfume de cotidiano e trabalho, no perfume do fim do dia e do trabalho, da noite, do retorno para casa e do conforto de estar nela."
O Leitor,
Bernhard Schlink
O Leitor,
Bernhard Schlink
Da Série Diálogos
Atendo o porteiro eletrônico:
- Quem é?
- Sou eu, mãe.
Uma fração de segundo.
- Acho que tu tocou no apartamento errado.
- Ah, é. Desculpe.
Mas naquela fração de segundo ali quase saí correndo e gritando!
- Quem é?
- Sou eu, mãe.
Uma fração de segundo.
- Acho que tu tocou no apartamento errado.
- Ah, é. Desculpe.
Mas naquela fração de segundo ali quase saí correndo e gritando!
O que talvez explique a minha ambiguidade em relação ao casamento
"Num estudo sobre a relação entre a depressão e o amor romântico, o psiquiatra italiano Silvano Arieti concluiu que as mulheres casadas sofrem mais de depressão do que os homens na proporção de dois para um. Nas outras categorias — solteiras, divorciadas e viúvas — as mulheres têm taxas mais baixas que os homens. Ele afirma que entre os fatores sócio-culturais que estão por trás da depressão feminina se encontra o fato de que o objetivo dominante para muitas mulheres não é a busca de um “eu” autêntico, mas a busca do amor romântico."
Regina Navarro Lins
Regina Navarro Lins
sexta-feira, 25 de março de 2011
quarta-feira, 23 de março de 2011
domingo, 20 de março de 2011
quarta-feira, 16 de março de 2011
domingo, 13 de março de 2011
sábado, 12 de março de 2011
Adaptando Byron
Love is friendship with wings.
(But why do people focus only in the wings? Flying is fun but is the friendship that guarantees the safe landing.)
(But why do people focus only in the wings? Flying is fun but is the friendship that guarantees the safe landing.)
Essa não vai para a série Coisas que eu gostaria de ter escrito, porque isso significaria um passado de sofrimento indescritível para as pessoas que eu amo, e isso ninguém quer. Prefiro meus pais com seu esquerdismo moderado, sensato e intacto, suas fugas acadêmicas para a França, seu instinto de sobrevivência acima de qualquer causa. Talvez cause um certo desprezo em quem viveu o horror de verdade. Certamente não é bonito, não é motivo de orgulho, nem foi seriado de TV, mas deixou neles partes íntegras, que de outra forma teriam sido destruídas pela crueldade da ditadura. Eles ainda têm medo, é verdade. Um medo estranho e difuso, entranhado neles de uma forma que não encontra explicações razoáveis. Mas o medo é a maior cicatriz deles, e sei que há outras infinitamente maiores, mais profundas e mais dolorosas marcadas no todo de outras pessoas.
Reproduzo esse texto aqui porque ele me comoveu. Porque me encanta e me toca o quanto a Fal consegue tantas coisas de tantos jeitos, me fazendo rir, me fazendo chorar, me fazendo sentir e entender coisas às vezes delicadas e doces, outras vezes dolorosas e quase impossíveis de imaginar.
"A sala da minha mãe
O que passaram os caras sentados acolá, na sala da minha mãe , você e eu nem podemos imaginar. Com todo nosso discursinho a favor disso e contra aquilo, nossos slogans, nossas eleições cheias de candidatos fabricados, bolinhas de papel, bandeirolas agitadas aqui e ali, meu bem, nossas opinõezinhas sobre Cuba e leite B e uniformes e palavras cujo gênero se inventa, nossos blogs engajadinhos, nossos blogs alienados, nossas aulas medíocres em universidades idem, nossas aulas geniais em todos os cantos, nossa panfletagem rasteira e essa pose de quem está salvando o mundo, nós não fazemos a mais-mínima-porra-ideia. Os caras sentados ali na sala da minha mãe passaram por tudo, mangueiras de alta pressão, celas imundas, espancamenos de verdade, choque elétrico e afogamento. Um deles perdeu um filho, o outro um olho, todos têm cicatrizes e um pavor irracional de serem pegos num comando tolo, desses de sexta-feira, que procura maconheiros e bêbados mimados. Os caras sentados ali na sala da minha mãe tomam remédio pro ácido úrico e pra depressão, pra pressão alta, pra pressão baixa. Eles viram o pior, eles perderam o que havia pra perder e além. Alguns, como meu tio S., ainda acreditam. Alguns, como a minha boa mãe, não crêem em mais nada e torcem a boca de nojo com o discurso de quem ganhou, com o discurso de quem perdeu. Alguns votaram em um, um monte no outro, alguns, não, vários deles, inda sonham com acampamentos ilegais, armas idem e invasões de toda sorte. Eles estão acolá, na sala da minha mãe, rindo alto, vendo fotos antigas, cantando musiquinhas (uma versão em especial, paródia de Quem te viu, quem te vê, do Chico, diz "você era o mais bonito, da escola de cadetes, você era o favorito, pois tocavas clarinete" e por aí vai, engraçadíssima), lembrando dos que morreram na cadeia, na tortura, no exílio. É bonito de ver, é triste também. Minha mãe coça o braço por cima de uma das cicatrizes (não a pior) e faz cara de choro de quando em vez. Eu sei que ela tem pesadelos às vezes, com a cadeia, com as surras, com o outro lado do mundo, embora ela não me conte. Sei, porque pesadelos _ doutra sorte _ me acordam às 3 da manhã, e vou para a sala, e ela já está lá, fumando e chorando junto com alguma ópera bem desgraçada, cheia de tuberculoses e bebês moribundos.
Mas os caras que estão acolá, sentados na sala da minha mãe, uns de tevê, outros de sala de aula, outros da vida, fumam, riem, cantam e enterram seus mortos mais uma vez, sem chorar. Pelo menos, não aqui. Pelo menos, não agora."
Para você ler a Fal, é só clicar aqui.
Reproduzo esse texto aqui porque ele me comoveu. Porque me encanta e me toca o quanto a Fal consegue tantas coisas de tantos jeitos, me fazendo rir, me fazendo chorar, me fazendo sentir e entender coisas às vezes delicadas e doces, outras vezes dolorosas e quase impossíveis de imaginar.
"A sala da minha mãe
O que passaram os caras sentados acolá, na sala da minha mãe , você e eu nem podemos imaginar. Com todo nosso discursinho a favor disso e contra aquilo, nossos slogans, nossas eleições cheias de candidatos fabricados, bolinhas de papel, bandeirolas agitadas aqui e ali, meu bem, nossas opinõezinhas sobre Cuba e leite B e uniformes e palavras cujo gênero se inventa, nossos blogs engajadinhos, nossos blogs alienados, nossas aulas medíocres em universidades idem, nossas aulas geniais em todos os cantos, nossa panfletagem rasteira e essa pose de quem está salvando o mundo, nós não fazemos a mais-mínima-porra-ideia. Os caras sentados ali na sala da minha mãe passaram por tudo, mangueiras de alta pressão, celas imundas, espancamenos de verdade, choque elétrico e afogamento. Um deles perdeu um filho, o outro um olho, todos têm cicatrizes e um pavor irracional de serem pegos num comando tolo, desses de sexta-feira, que procura maconheiros e bêbados mimados. Os caras sentados ali na sala da minha mãe tomam remédio pro ácido úrico e pra depressão, pra pressão alta, pra pressão baixa. Eles viram o pior, eles perderam o que havia pra perder e além. Alguns, como meu tio S., ainda acreditam. Alguns, como a minha boa mãe, não crêem em mais nada e torcem a boca de nojo com o discurso de quem ganhou, com o discurso de quem perdeu. Alguns votaram em um, um monte no outro, alguns, não, vários deles, inda sonham com acampamentos ilegais, armas idem e invasões de toda sorte. Eles estão acolá, na sala da minha mãe, rindo alto, vendo fotos antigas, cantando musiquinhas (uma versão em especial, paródia de Quem te viu, quem te vê, do Chico, diz "você era o mais bonito, da escola de cadetes, você era o favorito, pois tocavas clarinete" e por aí vai, engraçadíssima), lembrando dos que morreram na cadeia, na tortura, no exílio. É bonito de ver, é triste também. Minha mãe coça o braço por cima de uma das cicatrizes (não a pior) e faz cara de choro de quando em vez. Eu sei que ela tem pesadelos às vezes, com a cadeia, com as surras, com o outro lado do mundo, embora ela não me conte. Sei, porque pesadelos _ doutra sorte _ me acordam às 3 da manhã, e vou para a sala, e ela já está lá, fumando e chorando junto com alguma ópera bem desgraçada, cheia de tuberculoses e bebês moribundos.
Mas os caras que estão acolá, sentados na sala da minha mãe, uns de tevê, outros de sala de aula, outros da vida, fumam, riem, cantam e enterram seus mortos mais uma vez, sem chorar. Pelo menos, não aqui. Pelo menos, não agora."
Para você ler a Fal, é só clicar aqui.
quarta-feira, 9 de março de 2011
terça-feira, 8 de março de 2011
segunda-feira, 7 de março de 2011
Recarregando baterias
Então fomos na pracinha da nossa infância e batemos fotos e rimos e conversamos e passamos o tempo juntos.
Foi um dia feliz.
Foi um dia feliz.
sábado, 5 de março de 2011
sexta-feira, 4 de março de 2011
Assinar:
Postagens (Atom)