domingo, 14 de outubro de 2007

Deus abençoe a paciência infinita do meu Flying Friend

Que estava em Porto Alegre (e não voando pelo país afora) e resolveu passar aqui ontem e me pegar para almoçar. Então eu entrei no carro e ele disse com entusiamo: "E aí? Como tu tá?" e me abraçou.

E o sistema de defesa colapsou.
Inteiro.
Em bloco.
De uma só vez.

E eu chorei, chorei de um modo como eu não chorava havia muito tempo. Chorei de soluçar, de não conseguir respirar, de molhar a camiseta dele com maquiagem borrada. Chorei por todas as duas últimas semanas estúpidas dessa minha vida idiota. Chorei pela minha incompetência para me relacionar com as pessoas que mais me importam. Chorei porque eu sinto medo o tempo todo. Chorei e chorei e chorei.

E ele disse: "Ô, se eu soubesse que tava assim, eu tinha vindo pro café da manhã!"
E eu ri.

Deus abençoe as pessoas que me fazem rir.

Depois ele me levou para casa. E me deixou falar de um jeito idiota e truncado e sem explicar direito as coisas, de um jeito que eu nunca falo. E resumiu tudo: "já sei, tu entrou em modo auto-destruição." Sim.

E me ajudou a respirar fundo.

E me disse que se eu continuar funcionando no limite do meu sistema de defesa 24h por dia, vou ficar louca.
Vou ficar?

Então a gente almoçou. E ele me falou dos sonhos dele. E a gente falou de coisas bonitas. E de coisas que a gente precisa aprender. Muito.

E ele me fez passar a tarde sentada do lado dele estudando fisiologia, enquanto ele fazia os relatórios de vôo. Em silêncio.

E de tarde ele fez cappuccino para mim. E me deu as duas últimas passas de figo do vidro. E a gente riu do bolo mofado que encontrou (que foi para o lixo com o pote e tudo, porque estava impraticável) e depois ficamos conversando sobre fungos. E Rodolfo (o gato) ficou deitado com a cabeça no meu peito ronronando. E mordeu minha caneta. E sentou com a bunda bem no meio do meu xerox de fisiologia. Em silêncio.

E eu disse: "vou embora, que tô te atrapalhando." E ele respondeu: "Vai-te à merda!" Que é uma frase básica para todas as pessoas que lidam comigo. (Vai-te à merda. Com a variação "vai tomar no cu, antes que eu me esqueça!" - Só não me mande calar a boca, que aí dá o efeito contrário.) E me abraçou e disse: "Fica aí. Tu não tá me atrapalhando, tu tá me fazendo companhia." E eu quase chorei de novo, mas dessa vez não, e me comportei direitinho. Em silêncio.

E, sem falar nada, me dei conta de uma enorme quantidade de coisas. Que eu gostaria de ter percebido antes, mas não deu.

Depois ele me trouxe em casa e me deu cópia pirata de DVD legal e me abraçou de novo e disse: "se precisar tô aqui."

E eu espero que finalmente eu consiga me manter na zona de silêncio.

De momento, só dói quando eu respiro.

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