sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Acho engraçada essa pretensão humana de acharmos que somos os únicos seres sencientes e auto-conscientes do planeta, de pensarmos que só a gente entende do que se tratam as coisas, que só a gente tem sentimentos altamente complexos e idéias elaboradas a respeito de tudo. E acho mais engraçado ainda esse nosso esforço religioso para entendermos e – ainda mais difícil – sentirmos que somos uma parte difusa de um todo, que somos todos o mesmo, todos a mesma forma de vida, todos as mesmas partículas indissociáveis do universo. Alguns de nós dedicam vidas inteiras de devoção nessa busca. Anos de esforços meditativos, anos de estudos, de reflexões. Todo um esforço contemplativo, ou uma busca pelo transe extático transcendental que nos faça sentir em plena comunhão com tudo que há. Sempre achando que somos nós, e apenas nós, seres dotados de “inteligência”, guiando o planeta à parte alguma.

Aí fico imaginando se por acaso todas as outras formas de vida já não sabem isso que estamos tentando aprender. Todas. E que na verdade elas se comunicam de uma forma que não conseguimos entender, pois ainda não penetramos de verdade nessa consciência de que somos todos um. E, se comunicando, elas combinaram de ter uma enorme paciência com a estupidez humana e de nos deixarem aprender no nosso tempo. E elas nos deixam destruir o planeta do mesmo jeito que deixamos nossas crianças cometerem seus próprios erros, porque a gente aceita isso como parte do aprendizado. Errar, acertar, aprender. E as formas de vida todas ficam pacientemente esperando que a gente compreenda que somos todos a mesma coisa e que finalmente consigamos penetrar nessa forma de comunicação, para que elas possam nos receber como mais uma parte consciente do universo.

Parece bobo para uma mente humana, eu sei. Se nos deixarem destruir o planeta, o que resta para eles tanto quanto para nós? Tudo, aí é que está a resposta. Nos desmancharemos em quarks, quanta, mésons, fótons e sei lá mais o quê, sendo matéria e energia e tudoaomesmotempo e tudo o que sempre fomos rearranjados de um jeito diferente. A vida e o universo já sabem há muito que não há porque temer a inexistência.

Mas nós, humanos, os grandes seres brilhantes e espertos e poderosos, continuamos aqui nos debatendo com medo do monstro do armário, quebrando os nossos brinquedos e batendo nos amiguinhos. Até o dia em que gente seja capaz de crescer e finalmente mergulhar no que sempre foi, no que já é. A isso chamamos iluminação. É só olhar bem, prestar atenção. Telescópio ou microscópio, estamos vendo a mesma coisa. Abrace uma figueira; cheire um cravo quase a ponto de murchar; olhe bem nos olhos de uma girafa; afague um cachorro; sente numa pedra morninha num dia de sol; deixe o vento bagunçar o seu cabelo; lembre bem de um elefante; tome um banho de chuva; dê um mergulho no mar.

Eles todos já sabem. Nós é que não.

4 comentários:

Anselmo disse...

Wow! It's something like ilumination!

Anselmo disse...

Revolta popular em Maputo. A cidade ficou sitiada durante dois dias. Todas as saídas da capital estavam fechadas com barricadas e pneus a arder. Todo o comércio e os serviços fechados durante mais de 48 horas. 13 mortos pela polícia, e uns trezendos feridos, a maioria por arma de fogo.
Uma garota retonando da escola foi baleada no rosto pela polícia.
Obviamente, o Jornal Nacional não deve ter noticiado isso.

Ana Paula disse...

Quer que compre chocolate?

Maritza disse...

Anselmo: E-mail! Tô chocada!

Ana: Excesso de chocolate, bolachinhas e porcaria nos últimos dias, de modo que, no momento, estamos evitando.