sábado, 6 de fevereiro de 2010

Nayr em drops

O "bar de baixo", lá no Campus do Vale, tinha um microfone na qual o garçom anunciava o número do prato que estava sendo servido. De vez em quando um gritava "bingo".
Às vezes usavam o microfone para cantar parabéns publicamente a algum pobre aniversariante, e outras vezes a Nayr se chegava ao microfone e cantava (e cantava muito bem!) La Vie en Rose em italiano.

De fato, conviver com a Nayr foi uma das coisas mais legais da faculdade. Só lamento não ter idade, naquela época, para compreendê-la melhor e desfrutar mais da companhia dela. As aulas dela eram sobre tudo. Não necessariamten a gente aprendia a matéria que em tese deveria aprender, mas, se a gente fosse esperto o suficiente, aprendia coisas muito mais legais.

Me lembro que teve um dia que eu meio que briguei com ela, porque ela insinuou que havíamos colocado os nossos nomes no trabalho de um colega. Eu obviamente fiquei indignada com aquilo e prontamente protestei, protesto esse que ela acolheu muito bem, diga-se de passagem. Depois daquilo fiquei com um pouco de birra, mas tenho que admitir que ela sempre foi divertida e acabou me reconquistando.

Lembro também de uma aula em que, depois de "explicar" a matéria daquele jeito dela, ela perguntou se alguém tinha alguma dúvida.
- Sim, professora - eu levantei a mão.
- Diga.
- Esse colar que a senhora está usando, isso é uma ametista?
E ela respondeu a pergunta numa boa, e ainda comentou que era importante a gente ter espaço para perguntar o que quisesse, porque ela sentia falta de que a gente conversasse sobre outras coisas, e que tinha outros conhecimentos que a gente tinha que aprender (acho que foi mais ou menos isso que ela disse, não me recordo com precisão; alguém me corrija ou me acrescente, se lembrar melhor).
Digo em minha defesa que a pergunta era uma preocupação honesta, pois eu tinha dúvida se o colar não seria de algum tipo de coral (de longe não dava para ler direito), sendo portanto altamente anti-ecológico.
(Ela me garantiu que não era coral, era alguma pedra, mas ela não sabia o nome.)

Ela costumava colocar comida para os passarinhos que frequentavam o solarium do prédio administrativo, e eu também nunca vou me esquecer de uma agradável tarde de passarinhos cantando, no qual ela me parou no meio do corredor e recitou um poema da Maria Carpi.

Que saudade eu tenho da Nayr! Ela foi - muito apropriadamente - a paraninfa da minha formatura e deu de presente para cada um de nós um caleidoscópio, que eu mantenho até hoje na minha cabeceira. (Não sei porquê, mas meus olhos se enxeram de lágrimas agora).

Realmente ela foi uma das pessoas mais especiais da faculdade de Letras (que teve muitas pessoas especiais, justiça seja feita). Que bom seria ter uma Nayr dando aula e circulando pelos corredores do hospital. A faculdade de medicina precisava de uma Nayr Tesser.

Uma não, várias.

9 comentários:

Anselmo disse...

Esse post me deu uma saudade dos anos noventa... éramos jovens, inocentes, meio burros, na verdade.

Mas éramos muito mais felizes.

Patricia Daltro disse...

Esse post me emocionou. Acho que só os que tiveram uma "Nayr Tesser" em seus tempos de faculdade, foram felizes... Eu tive a minha, mas no segundo grau. Isabel Rolim. Saudades grandes dessa que me ensinou mais do que o currículo escolar apregoava.

Ana Paula disse...

Eu lembro de uma dia de inverno, cuja noite anterior havia sido de um frio absurdo, quando encontrei Nayr nos corredores do Instituto e ela disse: "Vou para a Redenção ver se o frio da noite passada matou a bicharada!". Até hoje não sei se ela falava dos passarinhos ou das bichas...

Maritza disse...

Ana: Provavelmente falava dos dois.

Patricia: \o/ essas pessoas fazer a gente virar uma pessoa melhor. \o/

Anselmo: Éramos todos jovens e inocentes, é verdade. Mas eu me sinto mais burra do que nunca, e não éramos mais felizes; a gente apenas se divertia mais.

Carol disse...

Eu nunca fui aluna da Nayr, mas posso dizer que ela sempre foi simpática com todos, inclusive comigo. O mundo precisa de mais pessoas como ela.

Nina disse...

Poxa, essa texto ficou tão bacana que cheguei a REALMENTE sentir falta da Nayr. Que nem conheci.

P.S. Sobre mudar de blog. Bem, quando a Caverna acabou eu achei o caminho daqui. Pq sim, mesmo depois de um TEMPÃO sem atualizações eu ainda ia lá na esperança de encontrar alguma coisa. Fiquei felicizicizilionérrima o dia que vi lá o GPS chamando pra cá, hehe.

Quer mudar, muda, mas ó, não deixa a gente sem GPS! ;)

P.S.2 Se bem que aí não faria sentido pq TODOS veriam o GPS. Ou seja: NÃO MUDAAAA

P.S.3 e mais importante: não creio na pergunta do colar, hahahahah LOUCA!

Maritza disse...

Carol: É, precisa mesmo.

Nina: Hehehe, da Nayr vale mesmo a pena ter saudade.
E não se preocupe, vou ficar por aqui mesmo, esse blog não está se mudando para lugar algum.
E quanto à pergunta do colar? Sim, é verídica, hehehe. Coisas que aprendi com a Nayr.

Anselmo disse...

Não acredito que um dos postas mais literários do teu blog teve apenas sete cometários!

Maritza disse...

Rs... as injustiças da vida.

;)